sexta-feira, 29 de julho de 2016

A cena black metal na Noruega

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Durante o início da década de 90, foi fundamentada uma subcultura na Noruega, orientada pela música black metal que era bastante popular na época, principalmente por causa da personalidade e das ideologias dos respetivos músicos, que rapidamente atraíram a atenção da mídia, devido a determinados crimes alegadamente cometidos pelos mesmos, nomeadamente queima de igrejas e assassinatos.
As ideologias formatadas por este grupo de pessoas estavam fortemente ligadas com a misantropia, satanismo, blasfémia e ataque a todos os outros tipos de religião, pretendendo espalhar o terror, o mal e o ódio. Estas pessoas organizavam-se numa espécie de culto que foi auto-denominado de "The Black Circle" ou "The Inner Circle". A sua intenção também era tornar o black metal num estilo de música unicamente underground e impassível de ser adulterado, daí o facto de bandas como Cradle of Filth e Dimmu Borgir, inovadoras no estilo, que modificaram e elevaram o black metal ao mainstream, são comummente desprezadas pelos elitistas. Apenas pessoas que se poderiam denominar atualmente como os tais "elitistas" poderiam ser integradas no culto mencionado.

A personalidade considerada como sendo a mais importante neste sentido de orientação da música e do culto do black metal é o ex-guitarrista do Mayhem, Øystein Aarseth, mais conhecido por "Euronymous", referido como a figura central na formação da cena black metal norueguesa. Durante maio e junho de 1991, Euronymous dirigiu uma loja de discos conhecida como "Helvete" (palavra norueguesa para "inferno"), na capital Oslo. Mais do que um local de comércio, o Helvete também era um ponto de encontro para músicos de black metal noruegueses, nomeadamente os pertencentes às bandas Mayhem, Emperor, Thorns e Varg Vikernes, do Burzum. O local estava pintado de negro e as suas paredes eram decoradas com posters de bandas, discos ilustrados/capas de discos e armas de batalha medievais. Foi também Euronymous que inventou os termos "Inner/Black Circle".

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O edifício era tão grande que, de acordo com Stian "Occultus" Johannsen (antigo baixista dos Mayhem e um dos fundadores do Helvete) nunca foi muito longe, dado que a respetiva renda elevada não ajudava muito. Apenas uma pequena parte do Helvete era devidamente usada como local de venda de discos. Ainda assim, era o ponto central da organização do black metal norueguês e era bastante bem-sucedido durante o tempo que durou. Entretanto, Euronymous viu a necessidade de fechar o Helvete, dado que o local tinha começado a atrair a atenção das autoridades, já para não falar da má fama que o alegado culto possuía. Atualmente, o Helvete ainda existe e encontra-se intato no seu local de origem, servindo como uma espécie de museu para os interessados.

Já em 1988, Euronymous tinha fundado uma gravadora discográfica chamada Deathlike Silence Productions, que ainda produziu e lançou álbuns do próprio Mayhem, junto com as bandas Burzum, Sigh, Abruptum, Enslaved e Merciless.

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A ideologia dos integrantes do Inner Circle era baseada, como já sabemos, no satanismo e na promoção do totalitarismo, ódio e terror, em detrimento do individualismo, hedonismo e paz. Eles também eram contra a Igreja de Satanás, fundada por Anton LaVey, reconhecido como o pai do satanismo e autor da "Bíblia Satânica", pelo facto dos seus princípios serem "demasiado humanos". Porém, este movimento era mais teórico do que prático e centrava-se maioritariamente numa intenção de tentar meter medo às pessoas, de modo a que o Inner Circle se isolasse e se opusesse ao resto da sociedade.

Não seria de admirar que, com atitudes deste género, o Inner Circle e a cena black metal começasse a originar conflitos com outras manifestações culturais e musicais contemporâneas. Com a capital norueguesa dominada pela onda do black metal, bandas de estilos musicais alheios começaram a sentir-se quase que forçadas a mudar a sua própria musicalidade, com a intenção de "entrar no grupo". O estilo death metal era vítima de uma visão negativa por parte deste grupo de pessoas, tanto que famosas bandas como Darkthrone e Immortal, que começaram como projetos de death/thrash metal, modificaram a sua música por completo durante o início da década de 90.
Rapidamente, a cena black metal começou a fomentar uma rivalidade contra o death metal, que era bastante popular na Suécia, em conflitos que chegaram a envolver inclusive ameaças de morte e de raptos para com músicos do estilo.

Com as bandas de black metal finlandesas, aconteceu a mesma coisa. No entanto, percursores e entidades importantes na divulgação da cena musical na Finlândia não se davam por vencidos e respondiam:
-O grupo Impaled Nazarene publicou comentários diretos, ofensivos e de gozo anexados aos seus primeiros lançamentos em disco;

-Marko Laiho, mais conhecido como "Nuclear Holocausto Vengeance", dos Beherit, afirmou que, das bandas de black metal norueguesas, aquela que ele próprio levava menos a sério era o Burzum, pelo facto de ele conhecer as entidades por trás da banda (podendo-se presumir que, pessoalmente, Varg Vikernes não seguia verdadeiramente os ideias do Inner Circle);

-Ritual Butcherer, guitarrista dos Archgoat, considerava a adesão à cena black metal uma moda e que a banda Darkthrone era a prova disso (devido à mudança de musicalidade que ocorrera, entretanto, de death para black).
A este conflito entre as nacionalidades deu-se o título de "The Dark War".

Com a eventual chegada de bandas de black metal religiosas, reconhecidas como sendo de "unblack metal", como Horde e Admonish a situação e atmosfera negativa agravou-se. A sede da Nuclear Blast Records (gravadora responsável pela divulgação dos trabalhos do Horde), recebeu ameaças de morte por parte dos grupos alegadamente satanistas, exigindo igualmente que os nomes das pessoas por trás do projeto fossem revelados. No entanto, nunca chegou a haver nenhum atentado grave por causa disto.
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O apelo a Satanás surgia como uma espécie de referência ao semblante psicológico dos integrantes do grupo e estes preocupavam-se mais em parecer-se malvados do que serem íntegros seguidores do satanismo. Euronymous, segundo os seus companheiros, era referido como uma pessoa que idolatrava a morte e possuía uma ideologia de extremos. Aquando da investigação acerca da sua vida pessoal e diária, após a sua morte, em 1993, as autoridades vieram a registar que, tanto Euronymous como os seus amigos, nunca tinham, de facto, conhecido um verdadeiro satanista. Segundo o ex-baterista dos Emperor, Bård Eithun, mais conhecido pelo pseudónimo "Faust", o satanismo entre os integrantes do Inner Circle não passava de um simples hype.

E com a morte de Euronymous, as pessoas começaram a perder os seus interesses no culto em que estavam incorporadas. O desenvolvimento de uma alegada "armada black metal" acabou por se desmoronar, progressivamente após o incidente. No entanto, o legado de Euronymous foi extremamente influente na fundação de uma grande parte do metal extremo moderno e na fixação do black metal da atualidade.

Esta segunda onda do black metal, posterior à música fundamentada por bandas como Bathory, Venom e Hellhammer, levou, portanto, à criação do black metal moderno, que todos nós conhecemos e adoramos. Inicialmente, o estilo caracterizava-se como uma espécie de thrash/death metal com uma sonoridade mais obscura e crua. Um álbum preliminar para o entendimento desta primeira onda é "Black Metal", dos Venom.
O black metal que reconhecemos atualmente pela sua musicalidade característica foi uma invenção de grupos que estiveram integrados no Inner Circle, que fundamentaram a sonoridade típica de quase qualquer outra banda do estilo que se pode encontrar por aí.

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